11/03/2007

Olhares

O céu mesmo azul e o sol mesmo quente deram-me vontade de ir para a esplanada, e aquietar-me por lá sem hora marcada para partir.
A melhor forma que encontro de apreciar a praça, o café, o sol e o azul do céu é fazer de conta que sou mesmo turista. Que estou ali pela primeira vez, que não vou mais voltar.
O traçado arquitectónico tem sempre algo novo para descobrir, as sombras nunca são iguais, as pessoas que circulam oferecem instantes únicos, as crianças gritam, atrás dos pombos, nos mais diversos tons e até os cães vadios, que dormem no empedrado mais batido pelo sol, suscitam sensações de afabilidade dentro de mim.
Amanhã, ou noutro dia qualquer, visitarei novamente aquela praça pela primeira vez e poderei saborear o dia como se fosse o último sítio a visitar antes de partir.

04/03/2007

Travessias

Tanto que eu gosto de dançar.... e há tanto tempo que não o faço! Nem mesmo em casa, onde, normalmente, dou largas à imaginação e me solto sem quaisquer constrangimentos. Parece que o corpo se resguarda, naturalmente, de determinados ritmos, rituais, gostos. E aos poucos se habitua a viver assim, quieto. Parece que há uma energia que se esconde, em certas alturas, sem qualquer razão aparente, mas que é necessário respeitar. Assim o sinto.

Uma dor no cotovelo esquerdo que me acompanha há meses, parece ter vindo para ficar. Também devagarinho, o corpo se vai habituando à falta de força e é o braço direito que acorre voluntário a pegar nos objectos. Sem pensar.

Por vezes acordo com torcicolos que se formaram durante a noite. Sem explicação. E é quando olho o mundo do alto da minha inflexibilidade que me submeto, de vez, à evidência do imprevisível. Sem resistência.

O difícil mesmo é atravessar a mudança. Chegar à outra margem. Sem perder o equilíbrio.