15/05/2007

Famílias alternativas ???

A minha vizinha da frente, viúva há tantos anos que já nem se lembra muito bem há quantos- e para aqui também não é grave a falta de clareza dos números- vive com um filho adulto, "incapaz", por inércia há tantos anos acumulada que não é possível imaginar solução para tão grande problema- o que para aqui também não é relevante (por enquanto)- e com um cágado minúsculo do qual- aqui sim é importante afirmar- confirmo a existência, pelos monólogos , ora ternos, ora zangados que a minha vizinha lhe dispara, quando se põe à janela com o bicho, imaginam porquê? Para o secar após o banho.
Rotinas são necessárias. Que o diga a senhora minha vizinha, cuja idade lhe ensinou que com rotinas se podem salvar dias de vazios e desperdicíos de tempo... Não haveria o bicho de tomar banho todas as semanas? Pois claro que sim. De sabonete, na carcaça, por baixo e por cima, nas patitas, que de barriga para cima, ficam a dar a dar, não se sabe se de prazer, de pânico ou de automatismo... Depois limpa-se muito bem, puxa-se o lustrinho, e vai-se para a janela apanhar sol, ou apenas uma "aragesita".
-Ói quida, está asseadinha, está? Coisinha linda! Está a gostar, está? Cheirosinha, hein? Prá semana há mais! Vamos lá apanhar um solinho! Quem é amigo, quem é?
Quaisquer outras "conversas" mais íntimas havidas entre a minha vizinha e o seu cágado não serão aqui reproduzidas. A privacidade de cada um, mesmo que a descoberto de uma janela, tem limites.
A senhora, há dois meses, caíu. Não sabe como fez aquilo. Tropeçou numa pedra. Estendeu-se ao comprido. No meio da rua. "Que vergonha!Nem tive habilidade para me segurar com as mãos"-dizia. Resultado: Braço direito ao peito. Engessado!
Quando me apercebi do incidente, já tinham passado dois dias. Era fim-de-semana. Perguntei, de janela para janela, se precisava de alguma coisa. Se queria que lhe fizesse o comer, que lhe trouxesse alguma coisa da rua, talvez uma ajuda na limpeza da casa, quem sabe, um lenço mais largo para trazer o braço ao peito... "que não, obrigadinha. Eu cá me vou arranjando"-respondeu. E acrescentou quase num sumisso de voz: "Só se me pudesse ajudar a dar o banho ao meu cágadozinho, coitadinho, que tenho medo de o deixar cair, como não tenho sensibilidade nos dedos..."

Disseram-me há pouco que se comemorava hoje o dia internacional da família!!!